Antonio Souto

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Textos

Entre caminhos 1
Era uma pequena cidade, cheia de tradições, com uma população fervorosa e amiga, um lugar onde as escolhas de diversão eram limitadas, porém as festas eram abundantemente especiais. As poucas celebrações pareciam suspender o tempo com  ruas enfeitadas com bandeirolas coloridas, cheiro de comida caseira invadindo as praças, e músicas que faziam até os mais tímidos arriscarem uns passos de dança. Cada festa era um reencontro de vizinhos, de memórias, de promessas antigas.

O ponto alto do ano era a Festa da Padroeira, quando famílias inteiras vestiam trajes típicos, e a igreja ficava lotada de fiéis. Após a missa, a procissão percorria as ruas em silêncio solene, quebrado apenas pelo som suave da banda local e pelo tilintar das velas. À noite, o silêncio dava lugar à alegria: quadrilhas improvisadas, concursos de bolo, histórias contadas ao redor de fogueiras e olhares trocados sob a luz tênue dos lampiões.

Nesse lugar, o tempo parecia correr de forma diferente  mais lento, mais gentil. E embora muitos jovens sonhassem em partir para conhecer o mundo, havia sempre algo que os trazia de volta, talvez o cheiro do café passado na hora, o som das cigarras nas tardes quentes ou, simplesmente, a certeza de que ali, entre tantas tradições e afetos, existia um pedaço de eternidade.

No coração dessa comunidade, morava um jovem rapaz chamado Marcelo.  O jovem, apesar de amar a sua cidade, tinha um sonho que o fazia olhar além das montanhas que cercavam o vilarejo. Desde pequeno, cultivava a vontade de conhecer o mundo, de explorar lugares que só via nos livros da pequena biblioteca municipal ou nas revistas antigas que sua avó guardava com carinho.

Marcelo era conhecido por sua curiosidade incansável e por passar horas no mirante da cidade, contemplando o horizonte como quem conversa em silêncio com o futuro. Era ajudante na padaria do pai e tocava sanfona nas festas da igreja, mas, por dentro, sentia que algo o chamava de longe,  talvez uma cidade grande, talvez o desconhecido.

Mesmo assim, nunca deixava de participar das tradições locais. Tinha um respeito profundo por tudo aquilo que fazia da sua cidade o que ela era. Sabia que havia um tipo de riqueza ali,  uma riqueza feita de laços, de simplicidade e de história  que o mundo lá fora talvez não compreendesse.

Mas foi justamente naquela Festa da Padroeira que algo diferente aconteceu. Enquanto tocava uma antiga melodia na sanfona, seus olhos se cruzaram com os de uma linda jovem que observava a festa com encantamento  uma jovem chamada Clara, que havia vindo visitar parentes distantes e acabara de chegar da capital.

Clara parecia fascinada com cada detalhe: as luzes penduradas entre os postes, o cheiro de milho assado no ar, os risos soltos das crianças correndo descalças pela praça. Marcelo, por sua vez, sentiu um estranho aperto no peito, não era tristeza, nem alegria plena, mas uma curiosidade intensa. Pela primeira vez, alguém de fora olhava para sua cidade com os mesmos olhos encantados que ele sempre teve, mesmo sonhando em partir.

Eles não trocaram palavras naquela noite. Apenas sorrisos tímidos e olhares que diziam mais do que poderiam entender naquele momento. Depois, Clara desapareceu na multidão, como se fosse mais uma parte mágica da festa, e Marcelo seguiu tocando, mas com a mente longe,  em um lugar onde perguntas começaram a surgir, silenciosas e insistentes.

E assim termina essa parte da história. Mas e agora?
Você acha que Marcelo deve seguir seu sonho e partir para conhecer o mundo, ou será que o encontro com Clara pode mudar seus planos?
Como você imagina o próximo capítulo dessa narrativa?

Antonio Souto
Enviado por Antonio Souto em 04/08/2025
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