Antonio Souto
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Sua presença
Lucas sempre foi um garoto calado. Passava horas observando as nuvens mudarem de forma e as formigas carregando migalhas, como se ali houvesse um segredo a ser desvendado. Vivia num bairro onde as crianças corriam pelas ruas gritando, jogando bola e brincando de pique-esconde. Mas Lucas preferia a companhia de sua avó, Dona Li, uma senhora de cabelos brancos e olhos pequenos e brilhantes que guardavam histórias como quem guarda tesouros.

Todas as tardes, Dona Li se sentava na varanda com um violão encostado no colo. Seu sorriso era sempre o mesmo, um sorriso que dizia: "Vem, Lucas. Hoje vamos compor a nossa canção." E assim, os dois passavam horas entre acordes, risos e versos improvisados. Lucas tocava com um entusiasmo quase desesperado, enquanto Dona Li fechava os olhos, deixando-se levar pela melodia.

Uma tarde, porém, o violão estava mudo. Dona Li não sorriu. Estava sentada na varanda, olhando para o céu, como se procurasse uma estrela desaparecida. Lucas sentiu um aperto no peito. Pegou o violão e começou a dedilhar a música que sempre tocavam juntos. Mas, dessa vez, a melodia parecia triste, como um lamento preso no ar.

— Vó? — chamou ele. Dona Li não respondeu.

Lucas continuou tocando, os olhos cheios de lágrimas. E então, algo extraordinário aconteceu. A música parecia ecoar pelo bairro. As crianças pararam de correr, os vizinhos abriram as janelas e, por um breve momento, todos ficaram em silêncio, ouvindo Lucas tocar a canção que ele e a avó haviam criado.

Foi quando ele percebeu. Dona Li não estava mais ali. Mas sua presença, sua essência, sua música estavam em cada nota, em cada acorde, em cada lágrima. Lucas fechou os olhos e, naquele instante, soube que sua avó havia partido. Mas que a melodia deles viveria para sempre.


Antonio Souto
Enviado por Antonio Souto em 14/05/2025
Alterado em 28/05/2025
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