Naquela noite, Ana estava sozinha em seu pequeno apartamento. A lua cheia brilhava intensamente no céu, mas uma tempestade se aproximava, anunciada por trovões distantes. Sentada no sofá, Ana segurava uma xícara de chá quente, tentando aquecer o coração que parecia frio e vazio. A canção que começava a tocar no rádio a transportou para outro tempo, um tempo em que Luiz ainda estava presente em sua vida. Quando a canção tocou, Ana foi imediatamente arrebatada por memórias de um verão passado. Ela se lembrou de Luiz, de seu sorriso, de como ele sempre sabia a coisa certa a dizer para fazê-la rir, mesmo nos dias mais difíceis. Sentiu como se pudesse tocar a mão dele novamente, uma sensação tão vívida que quase acreditou que ele estava ali, ao seu lado.
Mas, como a chuva que agora caía forte lá fora, as lembranças vinham acompanhadas de uma tristeza profunda. Ana recordou o dia em que tudo mudou. Foi em uma madrugada chuvosa que Luiz partiu, e o mundo dela nunca mais foi o mesmo. As cartas que ele deixara para trás, escritas com letras de fôrma, estavam guardadas em uma caixa de madeira no armário. Mesmo que ela não se lembrasse exatamente de todas as palavras, cada carta carregava um pedaço do coração de Luiz.
A chuva batia com força contra as janelas, abafando a música no rádio. Ana pensou em Luiz e em como ele provavelmente não conseguia ouvir a mesma canção, perdido em algum lugar distante. A ausência dele era como um eco incessante que preenchia o silêncio de sua vida. Ela se levantou e foi até o armário. Abriu a caixa de cartas e começou a lê-las uma por uma, como se tentasse recuperar um pouco da presença de Luiz através das palavras escritas com tanto cuidado. Algumas cartas estavam amareladas pelo tempo, mas ainda mantinham a essência do amor que compartilharam. Cada linha trazia de volta momentos de felicidade e dor, riso e lágrimas. Ana suspirou profundamente, sentindo uma mistura de saudade e aceitação. Luiz tinha ido embora de uma forma que ela nunca compreendeu totalmente, mas agora, lendo aquelas cartas, ela percebeu que ele sempre estaria com ela, de alguma maneira. As palavras dele eram como rosas que florescem no inverno, inesperadas e belas, trazendo um pouco de cor aos dias mais frios.
A tempestade lá fora continuava, mas Ana sentiu um calor suave invadir seu peito. Guardou as cartas de volta na caixa e sorriu, lembrando-se das rosas que Luiz sempre lhe dava, mesmo nos invernos mais rigorosos. A canção havia tocado na hora errada, mas de certa forma, trouxe à tona as lembranças certas, aquelas que ela precisava para seguir em frente.
Assim, Ana fechou os olhos e permitiu-se sonhar com dias mais claros, onde as rosas florescem, mesmo em meio ao inverno. E na suavidade das lembranças e das palavras de Luiz, encontrou a força para enfrentar as tempestades que viriam, com a certeza de que o amor verdadeiro nunca se vai por completo, ele apenas muda de forma